Pin up?

“Oops! Deixei cair a minha calcinha…”, exclama uma linda garota, com uma perna para cima e os seios arrebitados. Sexy, sorridente e bobinha, tal é o estereótipo da pin-up. Uma garota de papel que os esportistas nos vestiários ou os soldados nos quartéis penduram por meio de alfinetes (to pin-up), há mais de um século.

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Marilyn Monroe, a pin-up prototípica, posa para um retrato, registrado em 1956

A bela está sempre desnudada, porém raramente nua. Isso porque o gênero
pin-up, também chamado “cheesecake” (bolo de queijo), é fundamentalmente pudico. Os homens permanecem fora do cenário; as partes genitais ficam escondidas e o ato sexual é apenas sugerido, nunca consumido. O que explica o porquê do atual desvalimento da pin-up, considerada como obsoleta nesses tempos de licença sexual: daqui para frente, ela que conheceu sua hora de glória nos anos 1930-1950, nos Estados Unidos e no resto do mundo, está se vendo relegada às páginas especiais da revista “Playboy”, ao calendário da Pirelli e à “página 3″ dos tablóides britânicos.
A pin-up mais célebre do século 20, Marilyn Monroe, contribuiu de maneira considerável para impor o clichê da boneca loira, passiva e inocente, à espera do bem-querer do homem. Contudo, “a pin-up não é um símbolo mais misógino do que qualquer outro no campo artístico”, corrige Maria Buszek, autora do livro “Pin-up Grrrls – Feminism, Sexuality, Popular Culture” (2006) e mestre de conferências no Kansas City Art Institute. “Ela refletiu ao mesmo tempo as atitudes vis-à-vis da sexualidade feminina e as esperanças de mudança”.


O termo “pin-up” data dos anos 40, mas a bela é filha da revolução
industrial. “É no século 19 que são reunidas as condições para a emergência do gênero”, indica Maria Buszek, “quando surgem os meios de produção das imagens em massa, uma classe média urbana e uma sociedade mais aberta à representação da sexualidade feminina”. Aos poucos vão sendo difundidos, na Europa e nos Estados Unidos, os calendários sexy, os cartões-postais e os pôsteres de atrizes de teatro, por vezes desnudadas.

O intervalo entre as duas guerras mundiais vê surgirem dezenas de
desenhistas de pin-up, mais ou menos inspirados: Gil Elvgren, o chefe da “escola maionese”, cria calendários inspirando-se em Norman Rockwell e assina propagandas para a Coca-Cola; Art Frahm faz do
“oops-deixei-cair-minha-calcinha” sua cansativa assinatura; e Zoé Mozert, por sua vez, faz dela mesma o seu modelo.

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 Mas, para que a pin-up se torne a arte popular americana por excelência, vai ser preciso esperar até a Segunda Guerra mundial. Ela é então requisitada pelo exército para reforçar o moral dos GI’s: as “Varga Girls” passam a cobrir seus corpos nus com a bandeira estrelada, alistam-se como enfermeiras, trajam o uniforme da Navy…. De um símbolo sexual libertino, a pin-up é elevada à patente de “deusa guerreira” e acaba personificando a mulher americana – segura de si e audaciosa. 

Anônimas e atrizes de cinema espalham-se pelas paredes dos dormitórios e as portas dos armários dos soldados, dentro dos seus abrigos e até mesmo sobre a fuselagem dos aviões: é a “nose art”, discretamente incentivada pelas autoridades militares. Nunca a revista “Esquire” recebeu uma correspondência tão grande de fãs. De 1942 a 1946, 9 milhões de exemplares da revista são enviados gratuitamente para as tropas. Além disso, em 1942, quando os Correios americanos ameaçam retirar-lhe suas tarifas privilegiadas sob o pretexto de que os seus desenhos são “pornográficos”, a “Esquire” ganha seu processo, demonstrando o papel patriótico das suas criaturas de sonho.Enquanto os combates estão no auge, a pin-up exibe orgulhosamente sua glória e sua independência. Mas o fim da guerra, que vê se impor a pin-up fotografada, muda por completo as regras do jogo. “Os anos 50 são conservadores”, comenta Maria Suszek. “A mulher passa então a encarnar papéis mais tradicionais. É a era da ‘virgem eterna’ e do ‘avião loiro e ingênuo’”.No decorrer dos anos, o mercado da pin-up se vê limitado às revistas para homens. Em 1953, uma nova revista, a “Playboy”, toma o lugar da “Esquire” (que se desinteressou de uma vez por todas da pin-up), e se especializa no “cheesecake”. A primeira “playmate” das páginas centrais é uma certa Marilyn Monroe. Por trás das suas reivindicações de liberação sexual, a revista faz da pin-up uma boneca sem personalidade. As poses são previsíveis, as fotos retocadas – as modelos são fotografadas no frio, para que as suas mamas fiquem arrebitadas. A pin-up da geração Playboy ou Pirelli – o calendário da
marca de pneus nasce em 1964 – afastou-se do grande público.Ainda subsistem alguns desenhistas nostálgicos para manter a chama viva, reinterpretando as pin-ups históricas, tais como Betty Page.

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A pin-up também conquistou o campo da arte, com artistas tais como Cindy Sherman, que, desde os anos 70 vem desenvolvendo uma reflexão a respeito da representação da mulher.
Mas, a herança a mais recente da pin-up talvez deva se procurada do lado do “novo burlesco”, nos Estados Unidos. Trata-se de uma corrente que vê as garotas combinarem, no palco, o cabaré com o strip-tease kitsch. Será um retorno às origens? De fato, foi nos teatros, no século 19, que nasceram as primeiras pin-ups: sexy, espertas e… feministas.


fonte: UOL, Claire Guillot, Tradução: Jean-Yves de Neufville, Visite o site do Le Monde, 
http://www.fashionbubbles.com/moda/tudo-o-que-voce-sempre-quis-saber-sobre-as-pin-ups-sem-nunca-ousar-perguntar/